segunda-feira, 24 de julho de 2017

Filha, queria conversar com você. Acho que essa é a hora certa de te dizer algumas coisas. Talvez você ainda não entenda bem, mas não sei se devo adiar mais, porque não sabemos quando algo pode acontecer e as coisas podem ficar sem explicação pra você.
Antes de você chegar, o meu mundo não tinha mais razão de ser. Explicando melhor, eu tinha perdido a vontade de continuar caminhando. Tinha vontade de parar. Estava cansada, sabe? Mas não cansada de corpo, assim quando você fica depois de brincar horas e horas e dá a hora de ir pra casa e você sente que seu corpo não quer mais andar, quer só deitar na cama e dormir, descansar. Não tô falando desse cansaço. Tô falando de um cansaço bem maior. Um cansaço por dentro, talvez no coração. Uma tristeza. Não aquela tristeza que você sente quando eu digo que não vou te levar pra passear por estar cansada. Não é dessa tristeza que tô falando. Me refiro à uma tristeza bem maior. Enfim. Não vou me aprofundar nisso agora. Mas espero que você nunca, em toda a sua vida, conheça essa sensação de cansaço e tristeza das quais tô falando. Quero te ver bem e feliz sempre. Sempre. Aliás, a última coisa que quero no mundo e em toda a minha existência, é ver você sentindo essas coisas.
Então, eu resolvi ter você. Resolvi que tendo uma vida com a qual me preocupar, eu não sentiria mais esse cansaço e essa tristeza tão perturbadores. Eles me tiravam as forças, sabe? É isso. Eu não tinha mais força. Sabe quando algumas vezes você estava quase adormecendo sem tomar banho e eu fazia você levantar e ir pro banheiro? E seu corpo não queria ir, porque queria só dormir. Ou quando você adormecia no ônibus e na hora de saltar eu te acordava e seu corpo não queria responder? Você só queria continuar dormindo? As pernas não obedeciam, tanto era o cansaço. Era mais ou menos isso que eu sentia, mas de uma forma insuportável.
Daí você chegou. Não foi nada fácil, sabe, filha? Porque o bom da vida, e é o que eu quero pra você, é que tenhamos alguém pertinho o tempo todo pra nos ajudar enquanto esperamos um bebê. A gravidez tem momentos incríveis, mas também tem momentos desconfortáveis, momentos de sensibilidade extrema, momentos de medo, porque não sabemos como lidar muitas vezes e também momentos de questionamentos. Um sentimento de: Será que vou saber fazer tudo certinho? E nesses momentos,  contamos com o nosso esposo, o papai daquele bebê que está crescendo em nossa barriga. Filha, quero te dizer isso. O meu desejo é que no momento em que você estiver esperando o seu bebezinho, você tenha um esposo pra compartilhar esses momentos com você! Quero que tudo seja diferente pra você! Porque eu não tinha o seu papai por perto, filha. Eu fiz tudo errado. Eu estava perdida e acabei deixando as coisas fora de controle. E tive momentos de muita tristeza por isso, sabe, filha? E ainda tenho, porque até hoje o seu papai não está presente como deveria ser. E a culpa é minha. Te peço desculpas, perdão por isso. Você merece ter o melhor pai desse mundo e eu não pensei nisso quando te gerei, porque eu estava preocupada com as minhas tristezas e meu cansaço.
Mas, filha, depois que você chegou tudo mudou. As coisas passaram a ter cor, razão, sentido. E eu passei a viver pra você, por você. E sei que muitas, muitas vezes eu te entristeço e me entristeço também. Mas muitas alegrias eu tenho pelo fato de ter você! Aquele orgulho que sinto quando vejo você aprendendo a ler poucas palavras, desenhando bonequinhos com olhos, boca, cabelo... Às vezes sem os bracinhos, tá certo. Mas sei que isso tem um significado. Alguma coisa te falta, filha. Talvez o afeto paternal, talvez a estrutura familiar... Mas saiba que eu me culpo todos os dias por isso. E só peço que você faça diferente de mim... Cresça, se ame, estude, tenha uma profissão, namore um rapaz que te respeite, te ame, cuide de você... E depois se case. E só depois pense num bebê. Pra que as coisas funcionem minimamente bem. Tá certo que nem sempre as coisas funcionam bem, mesmo seguindo essa ordem. A vida nos dá rasteiras e, devo te dizer, algumas pessoas também. Decepções são normais, embora muito doloridas. Não posso esconder isso de você, muito pelo contrário, devo te alertar, porque te amo e quero que você saiba lidar com as frustrações, como não me ensinaram. Mas também, filha, não se sinta obrigada pela sociedade ou por familiares ou amigos, etc, a seguir padrões, porque por causa deles às vezes viramos bonecos, robôs, pessoas manipuladas e, com isso, frustradas por não conseguirmos atingir esses padrões. Só te aconselhei  a crescer, se amar, estudar, etc, porque assim as coisas têm mais chances de darem certo e assim você não se torna alguém como eu. Eu não sou ruim. Não é isso. Só não segui os bons exemplos, porque não tinha muito a minha volta e com isso me perdi. Minha família é totalmente disfuncional. Sempre foi, apesar de querer mostrar ao todos que não. Mas sei que mesmo fazendo parte dessa família, você pode vencer. Ninguém conversou comigo assim antes, porque talvez (com certeza) tudo seria diferente agora...

Te amo, filha... E quero que você seja a pessoa mais feliz desse mundo!!

Com o maior amor do mundo, mamãe...


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Aos 34 anos, sagitariana com ascendente em capricórnio (discordo, mas fazer o quê?!), do Rio de Janeiro (com louca vontade de morar num lugar tranquilo), estudante de psicologia (mas cheia de problemas de cabeça. rsrrsrsrs), mãe e pai da pequena Bia, de 5 anos. E esse blog fala da nossa trajetória, dos meus sentimentos, minhas muitas lamentações, etc.

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